A Hepatite auto-imune ou HAI é uma doença que afeta mais as mulheres entre 5 e 25 anos, em uma proporção de 4:1.1 No entanto, alguns autores sugerem uma distribuição bimodal: um pico com crianças e adolescentes e depois outro pico entre os 40 e 60 anos de vida.2 Sua prevalência é de 15 a 25 casos em 100.000 pessoas.2
Foi primeiramente descrita em 1951. Em 1956 a associação com FAN foi estabelecida e seu nome passou a ser “hepatite lupóide”.4
Caracteriza-se por ser uma doença inflamatória crônica progressiva do fígado causada por auto-anticorpos circulantes, hipergamaglobulinemia e evidência histológica de agressão hepática imunomediada.2
Não é recomendado rastreio em familiares, pois é raro a manifestação em outros familiares.1 No entanto, é comum que os familiares possuam outras doenças auto-imunes, como: doenças tireoidianas, doença celíaca, diabetes mellitus tipo 1 e doença inflamatória intestinal (DII).2
Por que ocorre a Hepatite Auto-imune?
Apesar de sabermos que HAI é uma doença auto-imune, sua causa específica (etiologia) é desconhecida, embora fatores genéticos e ambientais provavelmente estejam envolvidos.4
Há uma forte associação entre a HAI e os alelos do HLA (antígenos leucocitários humanos) localizados no braço curto do cromossoma 6, os quais estão envolvidos na apresentação peptídeos antigênicos às células T (células de defesa) e são relacionados ao início da resposta imune adaptativa.4
Dentre os HLAs destacam-se aqueles da classe II (HLA II DRB1), especialmente o HLA DR3 (DRB1*0301) e HLA DR4 (DRB1*0401) relacionados a suscetibilidade a HAI tipo 1 na Europa e América do Norte.2,4 O HLA DR7 (DRB1*0701) e HLA DR3 (DRB1*0301) são relacionados a suscetibilidade a HAI tipo 2. Pacientes com HLA DR7 tendem a ter uma doença mais agressiva e de pior prognóstico.4 No entanto, há casos descritos não associados ao HLA.2
O que atua como gatilho para desencadear a resposta desses HLAs é desconhecida.2 Para a maioria dos casos de HAI, o antígeno principal da doença não é reconhecido, mas pode haver mimetismo molecular e os mais descritos são:3
- CYP2D6 (o qual tem uma sequência homóloga a uma proteína do vírus herpes simples) reconhecido pelo anticorpo anti-LKM1;3,4
- Outros exemplos:
- SEPSECS reconhecido pelo anticorpo anti-SLA/LP;
- Forminotransferase ciclodeaminase (FTCD) é reconhecido pelo anticorpo anti-LC1;
- Eventos ambientais também poderiam desencadear a resposta imune: infecções, drogas ou nutrição.3
Após o estímulo, tanto a imunidade inata, como a imunidade adaptativa atuam no fígado (destacando-se a imunidade mediada por linfócitos T). Assim, sabemos que ocorre apresentação do antígeno e diferenciação dos linfócitos T em linfócitos Thelper 1, Thelper 2 e Thelper 17, os quais produzem inúmeras citocinas que contribuem com a desregulação imune.2
A principal atividade inflamatória vem dos linfócitos T que reconhecem um ou mais auto-antígenos expressos no fígado de pessoas geneticamente susceptíveis.3 De forma importante, a elevação de IgG (imunoglobulinas G) corrobora com a participação dos linfócitos B.3
Desta forma, o desenvolvimento da doença auto-imune se relaciona a quebra dos mecanismos de tolerância aos clones autoreativos de linfócitos T. A célula que tem esse papel chama-se Treg (linfócitos T regulatórios que auxiliam nessa supressão). Nos adultos com HAI, a população periférica de Treg está reduzida.4
Como resultado há uma densa infiltração hepática de células de defesa, como linfócitos, plasmócitos e macrófagos, causando autoagressão celular imune no fígado do próprio paciente.2,4
Bibliografia
- Couto, CA; Terrabuio DRB; Rachid EL; Porta G; Levy C; Silva AEB; Bittencourt PL and Members of the Pannel of the 2nd Consensus of the Brazilian Society of Hepatology on the Diagnosis and Management of Autoimmune Diseases of the Liver. Update of the Brazilian Society of Hepatology Recommendations for Diagnosis and Management of Autoimmune Diseases of the Liver. Arq Gastroenterol, 2019;56(2);abr/jun.
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